O Lenhador - Psicanálise e cinema - Por Jéssica Leite Barbosa
- Jéssica Leite Barbosa
- 16 de abr.
- 2 min de leitura
O Lenhador, filme americano lançado em 2004 e dirigido por Nicole Kassell, trata-se deum drama cujo enredo é totalmente voltado a vida de Walter, personagem que cumpriu doze anos em regime fechado por abuso sexual infantil e está em liberdade provisória. O personagem vive os impasses da ressocialização, tais como a angústia diante da sua atração sexual por crianças e o convívio em sociedade. Walter continua sendo acompanhado pelo Estado, que oferece atendimento psicológico para lidar com a questão que o levou à prisão.
Reside próximo a uma escola, o que possibilita passar por duas situações que o colocam em questão o tema do abuso sexual infantil: acompanha a rotina de uma adolescente que, posteriormente, descobre que é abusada por seu pai; eoutra situação se refere a observar um homem que alicia crianças na saída do colégio.
O filme exibe reflexões sobre a pedofilia, tema marginalizado que afasta as pessoas de uma compreensão mais aprofundada. O termo pedofilia, inclusive, originalmente vem do diagnóstico psiquiátrico que classifica sujeitos que possuem interesses e fantasias sexuais por crianças, sendo igual ou maior que o interesse por indivíduos fisicamente maduros. Apesar disso, existem sujeitos que possuem atração, mas não colocam em prática.
Para a psicanálise, a pedofilia pode ser lida no âmbito de todas as estruturas clínicas, sendo elas neurose, psicose e perversão. Assim, podemos considerar a pedofilia um fetiche, posição que o sujeito pedófilo assume como um instrumento de gozo para o Outro. O psicanalista Norton Cezar Dal Follo, ao estudar a temática, apresenta a tese da concepção de paternidade idealizada que o sujeito procura restaurar em contato com a criança que seduz. Sendo assim, o pedófilo seduz a criança entendendo que somente ele saberá fazê-la gozar.
Como instrumento da psicanálise, a transferência é primordial para o processo analítico ocorrer. Em casos como esse, a regra fundamental “fale tudo que vier à cabeça” pode ser interpretada como uma forma de colocar em ato a fantasia e gozar. Em casos de perversão, a função da fantasia é ser demonstrada, ou seja, o manejo transferencial e a regra fundamental da psicanálise abrirão espaço para que o analista maneje tal questão.
Diante disso, ao pensar na possibilidade de escuta do sujeito pedófilo é fundamental a reflexão: estou autorizado a escutar o gozo pedófilo? Caberá ao analista que se autorizar ao desafio da disposição ética para a escuta sem assumir a posição de cumplicidade diante do dito. Assim, ficamos com algumas questões: o que o sujeito pedófilo deseja buscar em uma análise? Haverá sofrimento em sua forma de gozar? Como manejar as fantasias deste sujeito?
Jéssica Leite Barbosa
Psicanalista e Psicóloga
Comments