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Le Cri De La Soie - Filme: O Grito da Seda - Psicanálise e cinema - Por Patrícia Torres


O Grito da Seda é um filme francês, dirigido por Y von Marciano e lançado em 28 de agosto de 1996. É uma obra cinematográfica inspirada na vida do médico psiquiatra Clérambault que, tendo também como parte da trama, Marie, uma mulher cuja relação com a seda transcende a mera apreciação estética, mergulhando no campo do fetiche em uma narrativa que transita entre o drama, a poesia e o erotismo, oferecendo uma experiência singular, propondo uma análise que transcende o julgamento moral.


A trama revela o fascínio do psiquiatra pelo tecido como objeto de estudo, tanto em suas propriedades físicas quanto em sua capacidade de despertar fantasias e obsessões nos indivíduos. Simultaneamente, a figura de Marie traz a personificação da complexidade do desejo, desafiando as convenções de uma sociedade francesa marcada por valores repressivos.


A seda é utilizada no filme como símbolo de poder, atração, mistério, desejo e transgressão. No filme, Marie exemplifica a teoria freudiana do fetiche enquanto uma fixação, sendo a sua relação com a seda carregada de uma carga sensorial, emocional e sexual que escapa à compreensão dos outros personagens que representavam a sociedade daquela época. Clérambault, por sua vez, enquanto estudioso, encontra na figura dessa personagem uma espécie de objeto de experimentação científica e de desejo, questionando os limites éticos e emocionais entre médico e paciente.


Desde o início, a transferência é visível na forma como Marie vê Clérambault não apenas como uma figura de autoridade médica, mas também como alguém que poderia validar ou compreender sua relação transgressora com a seda sem julgamento, como ocorreu com médicos anteriores a ele. Enquanto isso, Clérambault observa Marie como um objeto de estudo, mas seu fascínio pelo fetichismo dela parecem refletir uma identidade profunda com os desejos reprimidos que ele próprio carrega, utilizando-a como um espelho para confrontar as próprias questões internas.


A seda, filmada em closes sensuais, quase se torna um personagem Marie desafia os códigos morais e as normas sociais de seu tempo, fazendo no filme a seda parece ser uma extensão de seu próprio corpo, uma identidade para experimentar sua sexualidadede forma singular, mas também sendo vista como um desvio comportamental pela sociedade daquela época, que por fim, acabava sempre presa, ou dentro da sua própria fixação pela seda ou pela prática do crime, das quais ambas andavam juntas.


Clérambault, por sua vez, tem sua própria fascinação por tecidos e seus drapeados e pela fotografia embora disfarçada sob o verniz da ciência, reflete uma curiosidade que beira o fetichismo, demonstrando que os limites entre estudo e obsessão, ciência e desejo, são um pouco obscuros. No desfecho do filme, a fotografia e a morte de Clérambault se entrelaçam. A paixão do psiquiatra pela fotografia, presente ao longo de todo o filme, revela-se mais do que um instrumento científico ou artístico; é também uma forma de controlar, eternizar e compreender aquilo que o escapa. A imagem capturada pela câmera funciona como uma tentativa de fixação do efêmero, ou talvez a própria tentativa de simbolizar o real e o seu fracasso.


A cegueira total que antecede seu suicídio também pode ser vista como um ponto de ruptura. A cegueira o força a confrontar aquilo que está além do que pode ser simbolizado ou controlado. Podendo também representar uma máquina fotografia que não funciona mais, já que era a partir da sua própria lente que ele capturava as imagens obtidas com a câmera fotográfica. Ao escolher o espelho como cenário de sua morte, Clérambault enfatiza o paradoxo do olhar, que mesmo sem poder enxergar, se posicionou diante do objeto que refletia a imagem de si mesmo e que pela sua condição não conseguiu ver, capturar, alcançar sua imagem e ali dá por encerrada a sua vida.



Vídeo do encontro de discussão do filme:



Livro da autora:

Obscena liberdade, poemas de Patrícia Torres


Patrícia Torres


É médica veterinária de formação, mestre em Patologia Animal pela UnB, com especialização em Medicina Veterinária Legal e Perícia Criminal. Atuou na área de Medicina Veterinária Legal e dedicou-se à pesquisa. Após alguns anos construindo carreira nas ciências forenses, decidiu se reinventar, encontrando na poesia um espaço para explorar sua escrita e as complexidades humanas — amor, dor, identidade, autodescoberta, desejo, culpa, solidão e liberdade. Assim, Obscena Liberdade marca o início de uma nova jornada, onde palavras substituem laudos e pareceres, e os versos expressam aquilo que a ciência, muitas vezes, não consegue explicar.


Instagram Patrícia Torres:

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