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O Social em Freud

Atualizado: há 14 minutos


A concepção freudiana de social:


Freud precursor da psicanálise teoriza em vários momentos sobre o social e de como este foi organizado. Todavia, na medida em que a psicanálise foi avançando, o entendimento de social, também sofreu alterações e as inclusões de novos conceitos produziam novos entendimentos acerca da sociedade. Situa-se em “Totem e Tabu” (1913), obra que deu origem à discussão psicanalítica a respeito do social, torna-se base para os textos seguintes, que são de caráter metapsicológico.Isto porque, a partir de 1915, Freud passou a considerar um dos principais conceitos psicanalíticos, o inconsciente. Portanto, os textos “Além do Princípio de Prazer” (1920), bem como “Psicologia das Massas e a Análise do Ego” (1921) e, “O Mal- estar na Civilização” (1930) já consideram este novo preceito teórico.


Em Totem e Tabu (1913), Freud faz considerações acerca do início da organização social, para isto, se utiliza do mito da horda primeva, apresentando como se davam as relações entre as pessoas, as restrições morais e religiosas. O mito traz a história de irmãos que se uniram para assassinar e devorar o pai, pondo fim à figura patriarcal do grupo. O pai era temido e invejado, por sua autoridade e poder, no entanto, com a sua morte, todos os irmãos se tornaram rivais e, logo, iriam matar-se uns aos outros para ter o poder e cometer o incesto. Em consequência disto, Freud (1913) postula que a sociedade é inaugurada e organizada por um crime.


Estando os irmãos ameaçados a ter o mesmo fim do pai, surgiu a necessidade de uma nova organização, a instauração de uma lei, que permitisse o convívio destes, sem o risco iminente de ser morto. Esta lei proibiu o incesto, ou seja, a tomada da mãe enquanto mulher, motivo pelo qual mataram o pai. O assassinato do pai foi uma tentativa de se identificar com ele, possuir a sua força e a mulher desejada. Todavia isto fez com que fosse necessário um pai substituto, alguém precisava assumir o lugar do pai, para que pudesse novamente organizar a horda.


Com um líder, no lugar de representante do pai, os irmãos puderam se reconciliar com a figura paterna e, consequentemente, acalmar o sentimento de culpa e possuir novamente a sua proteção. É importante ressaltar, que Freud (1913) constatou, via pesquisas antropológicas, que a lei do interdito ao incesto, existe em todas as civilizações, portanto esta é uma lei universal. A interdição ao incesto vai ser tomada por Freud para explicar o complexo edípico, que será tratado mais tarde neste trabalho.


Em 1920, Freud situa que em vinte e cinco anos de intenso trabalho, precisou ressignificar muitos conceitos da teoria psicanalítica. Sendo assim, o autor pontua no texto, “Além do princípio de prazer” (1920), que eram necessárias algumas reformulações, pois entram em jogo novos conceitos, que dão aos textos seguintes, o caráter metapsicológico. Este texto é assim considerado, porque se remete a economia psíquica, apresentando um aparelho psíquico formado pelo consciente, pré-consciente e começa a trabalhar com a perspectiva do inconsciente, bem como, surgem outros termos como resistência e transferência. Nestas condições, define que o inconsciente é o reprimido, e que o sujeito não tem acesso a todo este material recalcado. Sendo que, o termo reprimido veio representar a busca pela satisfação completa, consistindo na repetição da experiência de satisfação.


As hipóteses levantadas por Freud (1920) neste momento, diz respeito ainda, a duas forças opostas, entendidas como instintos do ego, as dualidades são nomeadas de pulsão de vida e pulsão de morte. A pulsão de vida é responsável pela autopreservação e autoconservação do ego, enquanto à pulsão de morte, corresponde a intenção de alcançar o objetivo final da vida, se precipitando em atingi-lo, ou seja, a morte.


Em posse destas novas concepções mais elaboradas, Freud (1921) produz o texto “Psicologia das Massas e a Análise do Ego”, para pensar sobre a psicologia de grupo, a organização do mesmo e a posição do sujeito frente aos grupos. Desse modo, o autor equipara a psicologia individual à psicologia de grupo, levando em consideração que o sujeito se constitui nas relações e, portanto, está sempre imerso nelas, não tendo esta separação definida. Ou seja, sempre que se atende um sujeito, entra em questão, a relação social deste. Neste sentido, no texto interessa teorizar sobre o sujeito em relação aos outros, seus semelhantes, como parte integrante de um grupo. Para isto, o autor se utiliza dos autores como Le Bon (1855) e Tarde (1890).


De Le Bon, Freud (1921) resgata os preceitos de que o grupo possui uma mente coletiva, dirigida pelo inconsciente, o indivíduo não se responsabiliza pelo ato, pois está escondido no anonimato, permitido pelo grupo. Como efeito disto, o sujeito age diferente do que faria se estivesse sozinho. No grupo os sentimentos são exagerados, há uma impulsividade maior, e se caracteriza por ser mutável e facilmente irritável. Ainda pontua que em grupo o indivíduo age por contágio e sugestionabilidade, o que é também é encontrado em Tarde (1890 apud Freud 1921), que já reconhecia a sugestão e imitação como característica do grupo.


Outro fator importante, destacado por Freud (1921), é que algo une o grupo. Por esse motivo, o autor define que uma multidão ou aglomerado de indivíduos não é o bastante para considerar a formação de um grupo, este deve ter algo que enlace os indivíduos em questão, é preciso à existência de um laço libidinal. Tarde (1890 apud Freud 1921) dá indícios de uma ideia de verticalização no grupo, o autor afirma que o grupo só é mantido por algum tipo de poder. Sendo assim, há uma concepção de que a sociedade era organizada a partir do simbólico. Este poder é representado por um líder, que serve de ideal para os membros do grupo, que buscam deste líder, ilusoriamente, um amor igual para todos. Estes laços libidinais levam a identificações do indivíduo com o líder, abrindo mão de seu narcisismo para viver em harmonia neste grupo.


Em mais um de seus textos sociais, “O Mal-estar na civilização” (1930), Freud pondera o sofrimento causado ao sujeito, ao ter que reprimir, os seus desejos e suas pulsões, para que possa viver em sociedade. Considerando que as proibições que organizam o sujeito na sociedade passam pelo interdito do incesto e o desejo do assassinato do pai, ambos recalcados. O interdito do incesto é também a principal função paterna, é o pai quem mantém a proibição. Na civilização é garantido que a lei seja igual para todos, justa, sem favorecer ninguém. Esta, é uma lei simbólica, é a lei instituída primordialmente pela função paterna, que organiza o sujeito, sua constituição e sustenta a sociedade num processo simbólico. Através da simbolização o sujeito pode circular pela sociedade, fazer vínculos, encontrar saídas para os seus desejos e modos de viver no social.



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